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A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

28
Mai18

Grupos de mães no Facebook #5

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Ah, Segunda-feira... Como não adorar, não é? Levantar antes do galo, tomar banho e vestir qualquer coisa a correr, despachar os putos, os pequenos-almoços, as marmitas, passar pela creche e, finalmente, desembarcar no local de trabalho praticamente tão frescas e fofas como o pão da Bimbo. Mas, pormenores à parte, se há coisa que nunca pode falhar nesta alegria de início da semana é a nossa crónica "grupos de mães no Facebook" que hoje está subordinada ao tema "é preciso um dicionário porra".

 

E perguntam vocês por que raio será o dicionário uma necessidade, certo? Ai amigas... Mas vocês pensam que isto dos grupos de mães é chegar, ver e vencer? Se pensam estão muito enganadas. Há terminologias próprias, expressões que definem a tribo e, se vocês não as dominarem, são bem capazes de não perceber nem metade das importantes temáticas que por lá se discutem. Felizmente que me têm aqui, um auntêntico dicionário priberam, sempre ao vosso dispôr.

 

Escolhi seis termos para dissecar aqui hoje. Qualquer outro assim pertinente que se lembrem é só botar na caixa de comentários, aqui ou no Facebook, e a gente puxa do bisturi e disseca-o também.

 

1. Mr. Red - Isto é o que se chama meter logo a carne toda no assador. Como devem imaginar comecei pelo meu preferido de todos os tempos e o que mais gargalhadas de incredulidade me arrancou. Eu já lhe tinha ouvido chamar muita coisa, acreditem. Tinha inclusivamente uma colega que lhe chamava "tio Chico" e, portanto, pensava que já tinha ouvido tudo mas porra, Mr. Red é outro nível. Espero que a pessoa que começou com isto tenha patenteado o termo e esteja, neste momento, em negociações com a EVAX porque, efectivamente, isto é uma coisa com potencial. Mr. Red... Já não chegava período, menstruação, estória e até aquela malta que gosta de expressões tipo "tenho o benfica a jogar em casa". Não, tinha que se arranjar outra parvoíce qualquer que fosse ainda mais reveladora de oligofrenia. Enfim, é período.

 

2. Treinante - Não amigas, uma treinante não é uma atleta e, provavelmente, não é sequer alguém que gosta de desporto. Em gíria de grupo de mães a treinante é aquela mulher que está, pura e simplesmente, a tentar engravidar. Parece que as pessoas decidiram resumir a designação (usar muitas palavras fica chato) e transformá-la numa palavra só e vai daí foram buscar a inspiração ao Brasil. Aliás, este fenómeno de inspiração no português do Brasil é uma coisa muito comum nos grupos de mães, querem a prova? Reparem na quantidade de vezes que por lá se escrevem coisas como "te amo muito" e "te adoro" em vez dos nossos "amo-te muito" e "adoro-te". Já estão convencidas? Eu sabia que ia ser fácil... 

 

3. Bebecas - Objectivamente este é fácil de entender e não tem mal nenhum mas se vocês escreverem coisas como "puto" ou "miúdo" as outras mães ficam todas desconfiadas que vocês não gostam de verdade dos vossos filhos. É por isso que deixo o conselho: querem ser incluídas sem sofrer bullying por parte daquelas mães que gostam mais dos filhos do que as outras todas? É usar sempre, mas mesmo sempre, a palavra bebecas. Querem um exemplo prático? Atentem na diferença entre "o meu puto não anda a dormir nada" ou "o meu bebecas não anda a dormir nada"; parece fácil perceber que na frase número dois a mãe gosta muito mais do filho, certo? Depois não digam que não foram avisadas...

 

4. Namorido - Mais um clássico. Namorido é a palavra formada pela aglutinação das palavras namorado e marido e serve para designar aquele homem em situação híbrida que vive connosco. Por um lado é mais que um namorado porque temos que lhe lavar as cuecas mas uma vez que o fona ainda não nos meteu o anel no dedo também não o podemos chamar de marido. Eu tenho um exemplo destes em casa. Dá-me é mais jeito chamá-lo pelo nome próprio e, se por acaso falo com pessoas que não o conhecem, digo marido e pronto. É uma mentirinha pequenina e Deus perdoa. 

 

5. Amor maior - São os filhos amigas. Nem pensem em chamá-los por uma parvoíce qualquer tipo o nome próprio que até parece mal. É amor maior e pronto. Se tiverem mais que um podem sempre numerá-los "amor maior 1", "amor maior 2" e "amor maior 3". Pode ser menos prático do que João, Rui e Manuel mas é infinitamente mais amoroso. Não vale a pena explicar muito mais porque é a mesma onda do bebecas servindo como uma espécie de unidade de medida do amor maternal. É assim a tonelada do amor, percebem? O nome próprio do puto em termos de sentimento é mais fraquinho que o grama (e sim, sim, sim, grama é masculino).

 

6. Mamas - Olhem, escusam de estar já a torcer o nariz e dizer que toda a gente sabe que mamas são seios, peitos ou outro sinónimo qualquer. Nos grupos de mães não são. Nos grupos de mães mamas é aquilo que todas nós somos, percebem? Suponho que deve ser uma regra implícita que não se usam cá acentos (afinal uma pessoa quando é mãe não tem tempo a perder com minudências) e portanto caso tenham algo a publicar devem começar sempre por um simpático "olá mamas". Até porque se usarem mamãs correm o risco de que metade das participantes não vos perceba e a outra metade se sinta ofendida. Com um simples "mamas" poupam trabalho e estão sempre descansadas.

 

 

E pronto, depois disto acho que estão prontas para mergulhar nestes grupos. Digam lá o que seria de vocês sem estes preciosos ensinamentos? Marcamos encontro aqui para a semana, desta feita com o tema "as dúvidas mais comuns".

 

Bom resto de Segunda-feira mamas. Que tenham um jantar em beleza com os vossos bebecas e os vossos namoridos e que o desgraçado do Mr. Red não dificulte a vossa vida de treinantes. Já conhecem o mote: tudo por um amor maior!

 

 

*Imagem retirada do Google

25
Mai18

Sim, as mães têm medo de morrer!

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Estava grávida de 23 semanas e fui tomar um banho que, de forma egoísta, decidi que seria longo. Ia a coisa mais ou menos a meio quando comecei a pensar na quantidade de água desnecessária que estava a gastar ali e, assim quase do nada, pensei que a partir de agora teria a obrigação de ser mais consciente porque tinha a obrigação de entregar aos meus filhos um mundo melhor do que aquele que encontrei. Mas já se sabe que os pensamentos são como as cerejas e de repente, de uma forma incompreensível, vi-me presa na ideia do "vai haver um dia em que não vou estar mais aqui". E pela primeira vez senti um baque no peito com a ideia e juro que o meu coração pulou uma batida. A ideia da minha própria mortalidade ficou presa a mim e atormentou-me durante semanas.

 

Se antes da gravidez olhava para a minha mortalidade como uma coisa distante e improvável, que em nada condicionava o meu dia-a-dia, depois de ter um filho dentro de mim as coisas mudaram. Agora havia mais alguém, alguém a quem eu devia presença e apoio incondicional. E isso implicava estar viva... A ideia da minha finitude foi-se instalando de forma mais ou menos descontrolada, comecei a pensar na morte dezenas de vezes durante o dia, comecei a viver de mãos dadas com o pânico de alguma coisa me pudesse acontecer. Durante o período de algumas semanas nem consegui desfrutar da gravidez tal não era o medo que tinha entranhado.

 

E não, não me sentia egoísta. Sentia-me, simplesmente, refém de uma força maior que forçosamente me deveria fazer imortal: a maternidade. Já aqui escrevi uma vez que os nossos pais deveriam ser eternos mas quando estava grávida senti que eu própria devia sê-lo também. Quão injusto seria que a vida me levasse para longe dos meus filhos quando eles ainda precisassem de mim? E assim devagarinho o medo da morte que antes me parecia distante foi ganhando espaço, tomando conta. Nessa altura li muito sobre o assunto, meditei, reflecti... Mas nada parecia ajudar. Tornei-me oficialmente uma pessoa com medo de morrer. 

 

Não sei se é a reponsabilidade que a maternidade traz consigo se é mesmo o tamanho do amor que nos faz sentir que o nosso lugar é aqui, vivos, ao lado dos nossos filhos, para sempre. Não sei se um dia, quando percebermos que os nossos filhos estão felizes, realizados, que são adultos com as suas próprias famílias, este medo começará a diminuir. Gosto de acreditar que sim, que um dia teremos a sensação de que o nosso trabalho está feito e percamos o medo da partida. Gosto de acreditar que um dia estaremos plenos e em paz connosco e aceitemos a nossa finitude tranquilos e felizes.

 

Mas por enquanto não pode ser. Por enquanto tenho filhos que precisam de mim e, portanto, preciso de ser imortal. Por enquanto nós, mães e pais, precisamos de estar aqui, de continuar aqui, de permanecer. Com medo. Cheios de medo. Aterrados muitas vezes. Mas ainda assim, se querem saber, há uma coisa que me consola. Sempre que olho para os meus filhos sei que dava a minha vida em troca das deles sem hesitar. Mesmo que a minha presença física um dia se apague sei que, através deles, já me tornei imortal.

 

 

*Imagem retirada do Google

21
Mai18

Grupos de mães no Facebook #4

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Hoje o dia começou bem. Água é que nem vê-la. Acreditem que estive quase a pedir para fazer chichi na creche do puto quando o fui deixar porque juro-vos que não posso pensar que não há autoclismo para ninguém nesta casa. Preciso de lavar o chão da sala, a loiça e o cabelo mas não tenho água suficiente nem para lavar uma uva. Serve isto tudo para dizer que estou claramente de bom-humor o que, aliás, é bem capaz de se notar nas próximas linhas.

 

Ora pois que o tema desta semana da rúbrica "grupos de mães no Facebook" nos vai abrir todo um mundo de conhecimento até agora restrito. Preparem os vossos corações, peguem na caneta e tirem apontamentos porque, depois do dia de hoje, a vossa vida nunca mais será a mesma. Desde a forma correcta de prevenir infecções urinárias até à receita infalível para engravidar de uma menina tudo passa por aqui. De certeza que estão preparadas?

 

Então cá vai!

 

Coisas que se aprendem nos grupos de mães no Facebook

 

1. Como prevenir infecções urinárias durante a gravidez?

Olhem, assim a bem dizer é mesmo a coisa mais simples do mundo sendo que até sai relativamente barata uma vez que não requer grandes investimentos. Então, segundo uma participante de um grupo de mães, a mulher grávida quando vai banhar-se em águas paradas (seja uma piscina, uma barragem ou um lago) deve colocar um tampão previamente embebido em azeite na dita cuja que aquilo é remédio santo. Não há bactéria que passe por ali. Cria-se uma espécie de um muro aos bicharocos que permite que a mulher continue a viver feliz e radiante sem chichis às pinguinhas, dores no baixo-ventre e glóbulos brancos na urina.

 

E o que é que a mãe imperfeita tem a dizer sobre isto?

A verdade é que estou insatisfeita com a qualidade da informação transmitida. Foi uma leitora da página que me enviou um print com isto e, portanto, não pude obter os esclarecimentos necessários. Estivesse eu nesse grupo e perguntava logo qual seria o azeite mais indicado. Será o refinado, o virgem, o extra-virgem? Convém ser de Moura ou pode ser do norte do país? Qualquer grau de acidez é aceitável? Reparem que isto tem que se lhe diga, há muita coisa implicada no processo. Assim fica aqui uma pessoa, praticamente desamparada, sem saber a forma correcta de operacionalizar a coisa... Posto isto se calhar opto por manter-me na prevenção das infecções urinárias dos pobrezinhos: uma boa higiene genital, muita águinha e não andar horas a aguentar vontades de fazer chichi. Cá a ver se resulta.

 

2. O que fazer quando o bebé não dorme?

Ui amigas, esta é uma área vasta de conhecimento e, portanto, de entre todos os ensinamentos, decidi escolher as duas opções que me pareceram ter mais hipóteses de funcionar. Ora em primeiro lugar é experimentar meter umas cuecas sujas do pai debaixo do colchão do bebé. Diz que é tiro e queda. Se por acaso não resultar podem tentar a segunda opção que também dizem que é muito boa: acender uma lamparina no quarto. Se nenhuma das duas resultar voltem cá a fazer as queixas que ainda temos muitas cartas de sabedoria guardadas na manga.

 

E o que é que a mãe imperfeita tem a dizer sobre isto?

Ora bem, para além de me confessar parva da vida com estas pérolas ainda gostava de tentar perceber a explicação por detrás das mesmas. As cuecas do pai estarão sujas ao ponto de anestesiar os putos (credo, tirem-me esta imagem do cérebro por favor)? Será que a lamparina é assim como o senhor do programa da SIC e tem poderes hipnóticos fazendo os bebés sentirem uma espécie de "duérmete ahora" a que obedecem sem pensar duas vezes? Eu quando o meu não dormia fazia à antiga: pegava-o ao colo, metia-o na mama, embalava-o e, na loucura de achar que seriam cólicas, dava-lhe oito gotas de aero-om. Deixem que agora com o segundo já não me enganam.

 

 

3. Como tratar uma otite?

Olhem, se vocês seguem a página de Facebook e não adivinham esta já assim de caras deixem-me dizer-vos que fico francamente desiludida. É que já nem têm qualquer tipo de desculpa. Obviamente que a otite se cura enfiando de três a cinco gotas de leite materno no ouvido afectado da criança. Duhhh, pensavam que íamos agora falar de pediatras e antibióticos e não sei quê, não?

 

E o que é que a mãe imperfeita tem a dizer sobre isto?

Na verdade desde a história das conjuntivites que só fico surpreendida por ainda não ter ouvido ninguém dizer que o leite materno cura o cancro, a SIDA e todas as outras doenças graves da humanidade. É só já o que falta, acreditem. Agora num registo mais sério a minha mãe conta-me muitas vezes que em criança tinha otites de repetição que a minha avó insistia em curar com umas gotinha de chá de cebola (enfiadas directamente no ouvido). Não pensem que é por acaso que a minha mãe diz mil vezes "eu ouvir ouço-vos, o problema é que não vos percebo". Enfim, estou já meio aborrecida de dizer para levarem os putos ao médico...

 

4. Como engravidar de uma menina?

Ora aqui está uma coisa que a humanidade anda a atribuir erradamente à lotaria genética há demasiados anos. Se vocês acreditam que a mulher cede sempre o cromossoma X e que depois o facto do homem atribuir o X ou o Y é aleatório é porque não sabem nada da vida. Na verdade as mães que sabem destas coisas reconhecem que a mulher não tem grande poder decisório na questão mas sabem o que fazer para que o homem se deixe de merdas e mande um cromossoma X em vez do Y para sair uma linda menina depois. E é tão simples quanto vestir umas cuecas de senhora ao homem enquanto estão a praticar o amor. Acaba-se assim com a aleatoriedade do processo e pronto. Depois, quando engravidarem do terceiro rapagão, não venham para aqui dizer que não sabiam.

 

E o que é que a mãe imperfeita tem a dizer sobre isto?

Pois digo que é injusto. Então e quem é assim como eu que engravida sempre sem querer e não anda cá com tentativas? Assim tenho que entregar o destino nas mãos da aleatoriedade genética e pronto, não? Só vos digo que se não fosse fechar a loja a seguir ao parto deste pequenino que me está aqui aos pontapés às costelas puxava fogo aos boxers todos do meu marido. E depois filmava a cara dele quando descobrisse que tinham sido substituídos por lindas cuecas de seda e renda. Não sei exactamente qual o argumento que ia usar para o convencer mas que a coisa se dava, isso garanto-vos que dava. 

 

5. Como evitar que o marido nos abandone

Escusam de perguntar porque é que este assunto estava a ser discutido num grupo de mães porque eu não estava lá e, portanto, não sei contextualizar. Foi um print maravilhoso que me enviaram e que não deu para não usar, só isso. Enfim, passando ao que realmente importa... Estão inseguras com o corpo novo? Andam cansadas e sem paciência para mimar os vossos maridos? Não se preocupem que vou revelar a forma de os manter presos a vocês para sempre. Caneta e papel meninas, caneta e papel. Estão preparadas? Então é assim, é fazer-lhes um cházinho à escolha, o sabor preferido deles vá, e depois deitar lá para dentro um pêlo púbico vosso. Diz que é infalível. Deixam lá o pelinho de molho um minuto ou dois, depois retiram e dão o chá aos desgraçados, ups, aos maridos. E pronto, felizes para sempre.

 

E o que é que a mãe imperfeita tem a dizer sobre isto?

Olhem, tenho a dizer que não comecem com desculpas do tipo "não tenho pêlos púbicos". Se têm filhos pequenos é óbvio que têm pêlos porque ninguém tem a depilação em dia com putos em casa. E não neguem à partida uma ciência que desconhecem. Se parece bruxedo? Epá, parece. Mas o calcitrim e o mangostão também e, mesmo assim, há quem compre. É experimentar meninas, é experimentar.

 

 

E pronto, ficamos por aqui que agora preciso de ir ali ao quintal pressionar os senhores da Câmara para ver se a água volta depressa. Já não aguento mais esta sensação de falta de banho que até me faz sentir comichões pelo corpo todo. Para a semana há mais com o tema "é preciso um dicionário". Ah, e vou precisar da vossa ajuda para este, depois explico melhor na página de Facebook. 

 

 

* Imagem roubada do Google

 

 

17
Mai18

A mãe ao final do dia

 

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Ainda nem são horas de almoço e ela, que o deixou na creche há duas ou três horas, já está cheia de saudades. Por muito que esteja focada no trabalho é inevitável que o pensamento, de vez em quando, vá ter com o pequenino que faz a vida dela tão maior. E nunca mais chegam as cinco da tarde para o poder abraçar outra vez...

 

As horas vão passando, o cansaço acumulado começa a provocar dano e a dor de cabeça começa a espreitar lá de longe. Ela lembra-se que não há cenouras em casa e é preciso fazer sopa para o miúdo. Também dava jeito trazer meia-dúzia de ovos para pincelar o empadão. Ainda bem que conseguiu cozer o frango de manhã. Começa a pensar que se calhar era boa ideia passar no supermercado antes de apanhar o miúdo mas, de imediato, o sorriso dele aflora ao pensamento dela acompanhado da inevitável pontada de culpa.

 

E assim ela passa primeiro na creche onde é recebida por dois bracinhos no ar e uma corrida para os seus braços. O dia está ganho. No supermercado começa a arrepender-se de não ter ido às compras sozinha. O miúdo está excitado, corre pelos corredores, tira coisas das prateleiras, quer um chocolate e faz birra. Depois atira-se para o chão. Ela sopra, conta até dez, pega no puto ao colo e vai para a caixa. Paga. Aguenta outra birra porque ele agora decidiu que não quer sentar-se na cadeirinha do carro. A dor de cabeça está cada vez mais presente.

 

Em casa tenta brincar com ele enquanto orienta o jantar. Mete a Bimby a rodar e dá uma bolacha Maria ao miúdo ao mesmo tempo que liga a televisão na BabyTV na esperança de ganhar dez minutos para desfiar o frango. Mas o miúdo não está com meias medidas e quer brincar com a mãe. Só que ela agora não pode, tem o jantar para fazer. E a culpa, emparelhada com a dor de cabeça, está cada vez mais presente. 

 

Entretanto, depois de por um qualquer milagre ter conseguido meter o empadão no forno, senta-se um bocadinho no tapete da sala e brinca vinte minutos com o miúdo ao mesmo tempo que pensa se haverá calças de ganga lavadas para lhe vestir amanhã. Antes de dormir ainda é preciso meter a máquina a lavar e recolher a roupa que ficou estendida de manhã. A dor de cabeça aumenta quando pensa na montanha de roupa por passar na cesta.

 

E chega a hora do banho. O puto chapinha na água e a casa-de-banho fica molhada de ponta a ponta. Vesti-lo parece uma espécie de luta que acaba com uma mãe descabelada, molhada e a raiar a loucura. Depois dele vestido e lavado ela enche-o de beijinhos culpados e recrimina-se mil vezes por ter perdido a paciência.

 

Quando o senta na cadeira da papa para jantar sabe que um dos dois cenários pode ocorrer: ou ele come tudo, feliz e contente sem grande alarido, ou vai estar num dos dias em que não quer a sopa, depois quer comer o segundo prato sozinho, depois suja-se e deixa tudo à volta numa espécie de cenário pós-guerra. Ela pede baixinho, para dentro, que seja a primeira opção. E por milagre é o que acontece. Ele janta rápido e depois de lavar os dentes é altura de o deixar brincar mais um bocadinho.

 

É hora do jantar dos adultos. E depois há uma cozinha que não se arruma sozinha. Nesta altura a dor de cabeça já grita por, ao menos, um paracetamol e a culpa está colada a ela porque o tão apregoado tempo de qualidade lá em casa parece não querer entrar. Quando finalmente vai adormecer o miúdo já é meio desesperada com tudo o que ainda tem para fazer. Mas ainda assim rouba ao tempo cinco minutos para o ver dormir, tão lindo, tão perfeito, tão feliz. Aqueles cinco minutos servem para o decorar, para prometer que amanhã vai ser diferente.

 

Só falta meter a roupa na máquina, recolher a que está estendida e preparar as mochilas e lancheiras para o dia seguinte. Entretanto o paracetamol tem mesmo que ser tomado porque, de uma forma qualquer, também ele engana o cansaço. E ela enche uma caneca com água que mete no microondas para despachar serviço e faz um chá de camomila na esperança de que a ajude a descansar. O sofá está quase ali. É só arrumar os livros espalhados, apanhar os legos, guardar a bonecada. E finalmente ela senta-se. 

 

Tinha jurado que hoje ia ler um bocadinho ou ver um episódio da Anatomia de Grey. Mas são 00h30' e, amanhã, antes das 7h, já vai estar de pé. Os olhos começam a pesar e os últimos pensamentos do dia são o que fazer para o jantar de amanhã e depois o sorriso do filho. E por mais estranho que pareça esse pensamento de sorriso traz-lhe o cheirinho perfeito dele e mesmo cansada, com a cabeça a rebentar, ela sabe que vale tudo a pena e promete a si mesma, com todas as forças que lhe restam, que amanhã será melhor.

14
Mai18

Os grupos de mães no Facebook #3

 

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Chegou mais uma Segunda-feira e qual a melhor forma de a celebrar? Analisando mais um bocadinho daquilo que se passa nos grupos de mães no Facebook por esse mundo fora, é claro. E para hoje guardei o meu tema preferido. O topo dos topos, transversal a todos os grupos, independentemente de se focarem ou não numa área específica da maternidade. Senhoras e senhores (esta parte dos senhores era meio que escusada que acho que não há muitos por aqui) para hoje temos um especial "a mulher é bicho ruim".

 

Ora bem, tendo a perfeita consciência que o título me vai render meia-dúzia de insultos (a verdade é que também já não vivo sem eles), deixem-me clarificar um pequeno ponto antes de avançar para o cerne da questão. Contrariamente às queixas de carácter médico ou aos fundamentalismos parvos, o tema de hoje faz-me bastante sentido. Os grupos de Facebook são geralmente compostos por mulheres da mesma faixa etária e que atravessam uma fase semelhante. Só por isso têm (ou deviam ter) uma empatia grande e uma capacidade de compreensão ainda maior. Trocando por miúdos, quando me queixo que ando exausta porque tenho um filho de 17 meses e uma gravidez de 26 semanas, não acredito que alguém me possa entender melhor do que outra mulher com um filho pequeno e que também esteja grávida, percebem? É por isso que acho normal que nestes grupos, protegidos do mundo, e onde não conhecemos pessoalmente as outras participantes, seja mais fácil desabafar e partilhar um bocadinho da nossa intimidade.

 

A coisa é que as mulheres, com tudo o que têm de maravilhoso, às vezes conseguem ser lixadas umas com as outras. Têm dúvidas? Então sigamos para Bingo.

 

 

A MULHER É BICHO RUIM

 

Publicação: Olá a todas, confesso que preciso desabafar. Ando cansada para não dizer de rastos, a roupa cai-me toda, mal tenho tempo para comer e o meu marido cada vez está menos presente e ajuda menos. Como somos emigrantes, e estamos longe da família toda, só nos temos um ao outro e agora ao baby T. Mas o meu marido agora sai sempre com os colegas de trabalho e cada dia chega a casa mais tarde. Quando chega senta-se à mesa para jantar e depois com sorte mete os pratos na máquina e ferra a dormir no sofá. Não aguento mais este ritmo. Sinto-me sozinha e a enlouquecer...

Resposta 1: Bolas eu cá quando leio estas coisas cada vez mais tenho a certeza que tive mesmo sorte com o homem que me calhou. O meu ajuda em tudo, não há nada em casa que ele não faça e de noite é sempre ele que se levanta para dar o leitinho à nossa bebé. Ele compreende que preciso descansar. Veja lá mamã que esta semana até passou a ferro um dia.

 

Comentário da mãe imperfeita a isto tudo: É muita putaria, senhoras. A melhor maneira de confortar uma mulher que se queixa que o marido não ajuda nada e está exausta é exactamente esfregar-lhe na cara que o nosso é a versão com cromossoma Y da Gata Borralheira sem as irmãs feias de brinde. De certeza que tudo o que esta desgraçada precisava de ouvir era que o marido da outra até dá leitinhos de noite e passou a ferro. Isto quando o dela não faz pontinha de corno excepto comer e dormir no sofá. Aposto que a mulher que fez este desabafo ficou muito mais aliviada depois de ler esta resposta. Ou isso ou foi à gaveta dos talheres, tirou a faca do pão e cortou os pulsos. É muita maldade encapotada caraças.

 

 

Publicação: Olá a todas as participantes do grupo. Espero que vocês e os vossos babies estejam bem. Eu ando super preocupada com a questão do andar pois a minha Benedita, já com quinze meses, ainda não dá nem um passinho sozinha. Se for agarrada às coisas tudo bem mas se a largamos senta-se logo no chão ou vai de gatas...

Resposta 1: Olhe mamã, eu acho que não devia ficar preocupada porque cada criança tem o seu ritmo e é perfeitamente natural que a sua menina ainda não ande. Por acaso o meu Diogo começou a andar antes dos 12 meses e já o meu mais velho tinha feito o mesmo mas é o que lhe digo, cada criança tem o seu tempo.

Resposta 2: Nisso por acaso a minha foi mesmo precoce que deu os primeiros passos sozinha aos dez meses. Mas eu no seu lugar não me preocupava. O que diz o pediatra, já agora?

Resposta 3: É normal sim. Um dia quando menos esperar ela larga-se e anda sozinha. A minha foi assim, aos treze meses.

 

Comentário da mãe imperfeita a isto tudo: Ora bem, em primeiro parabenizar a autora da publicação por fugir à regra do "olá mamãs". É uma pena que não tenha fugido também à dos "vossos babies" mas isto já se sabe que nunca se pode ter tudo. Em relação às autoras das respostas olhem... Merdinha para as três. Realmente uma forma perfeita de tranquilizar uma mãe é mostrar-lhe a precocidade dos nossos filhos comparativamente aos dela. Aposto que a pessoa ficou muito mais descansada depois de perceber que estes putos começaram todos a andar muito antes da filha. Epá, se querem ajudar porque é que não ficam só pelo "é normal sim, cada um com o seu ritmo". Depois todas as outras mães, aquelas cujos filhos não são precoces, podiam então acrescentar "o meu também tem 15 meses e ainda não anda" ou "o meu mais velho só começou a andar aos 18 meses e entrou este ano em engenharia biomédica no Técnico". Percebem o ponto de vista? Guardem lá as gabarolices para quando elas não causam dano, sim?

 

 

Publicação: Bom dia a todas. Hoje venho expôr aqui um problema que me tem afectado bastante. Então é assim, desde que engravidei que perdi todo o desejo sexual. É uma coisa quase angustiante. Até tenho pena do meu namorado que coitado deve andar quase a subir às paredes (estou de 31 semanas). Não é por ter medo de fazer mal ao bebé nem nada disso é só mesmo falta total de vontade. Mais alguém por aí com o mesmo problema?

Resposta 1: Ihhhh, por aqui o problema é o oposto. A gravidez transformou-me numa tarada que pensa em sexo a toda a hora. O meu marido até custa é a dar conta que até já me foge e finge que está a dormir LOLOLOL

Resposta 2: Eu por acaso mantive o apetite sexual igual. Não será melhor ir a um psicólogo ou assim? O homem ainda rebenta... Ou então vai arranjar outras maneiras de se aliviar, se é que me entende...

 

Comentário da mãe imperfeita a isto tudo: Amiga, tivesse eu estado neste grupo e dizia-lhe já que a única fêmea na natureza que se deixa cobrir quando está grávida é mesmo a mulher e, portanto, a falta de apetite sexual é capaz de ser uma coisa perfeitamente normal. São muitas alterações e de tantas ordens que o sexo acaba por desaparecer da nossa mente (pelo menos da mente de algumas). As coisas hão-de voltar ao normal daqui a uns tempos (mas não pense que é logo quando o puto nasce que aí nada melhora nessa área, antes pelo contrário). E é tudo normal e faz parte. Em relação às duas despachadonas das respostas nem sei bem o que diga. Se calhar que tenho pena do marido da primeira e que a segunda devia ganhar uma micose num sítio qualquer onde não se conseguisse coçar. É que reparem, nem dá para tentar retirar uma gotinha de bondade de respostas destas... A primeira queixa-se que ficou ninfomaníaca (ela diz tarada porque não deve conhecer o termo) mesmo como quem diz "pino por mim, por ti e pela vizinha" e a segunda facilita imenso a vida da "publicadora" quando lhe enche o sótão de macaquinhos numa espécie de "pensa lá bem o que é que o teu marido pode vir a fazer por tua culpa". Olhem, estrelinha que as guie.

 

 

E pronto, tenho ou não tenho razão? Foram só três exemplos mas é porque não vos quero aborrecer muito. Para a semana há mais e o tema será "coisas que só se aprendem nos grupos de mães". Até lá, haja saúde.

 

 

* Imagem retirada do Google

 

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