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A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

11
Mai18

Não faz mal se o amor não vier logo

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Há bocado, em conversa com uma amiga que também está grávida, ela acabou por me perguntar como é aquela sensação de olhar um filho pela primeira vez e ficar presa de imediato a um amor maior que os outros todos. E juro que tive realmente pena de não lhe saber responder... Não fui uma dessas mães abençoadas com a sorte de ter aquela explosão de amor instantâneo que algumas mulheres descrevem. Na verdade, o sentimento que me dominava nos primeiros momentos que passei com o Pedro era o medo. Se por um lado sentia um orgulho gigante, por outro só pensava "ai caraças que isto agora é para sempre".

 

Não pensem que quando digo que não senti "aquele amor" isso quer dizer que o miúdo me era indiferente. Nada podia ser mais distante da verdade. Havia ali qualquer coisa, uma espécie de semente de amor, que me fazia perceber que aquele coraçãozinho a bater tão rápido iria marcar o compasso do meu para sempre. Mas havia também um cansaço descomunal, dores, hormonas enlouquecidas e, volto a dizer, um medo gigante. É verdade que na gravidez nos vamos preparando lentamente para a ideia da maternidade mas é quando eles estão cá fora e olhamos para eles que realmente pensamos "ai caramba que agora sou mãe". E se algumas mulheres encaixam esta ideia rapidamente outras há, tipo eu, que precisam de um bocadinho mais de tempo.

 

Para mim ser mãe não foi uma coisa instantânea. Não brinco quando digo que o miúdo me assustava. As ideias do ser para sempre, da dependência total e absoluta do bebé em relação a mim, da obrigatoriedade da mudança de vida... Todas essas ideias rolavam na minha cabeça, de forma mais ou menos evidente, e me faziam cozinhar o amor em fogo lento. Até que um dia, sem dar por isso, quase sem saber como, o meu coração tinha um dono novo. Havia um sorriso só de um dente que me tinha presa, uma bolinha de carne que me parecia ser a coisa mais perfeita do mundo, um carequinha que me tinha aos pés com um simples suspiro... E foi assim, devagarinho.

 

Hoje respondi à minha amiga que não sabia o que era esse amor instantâneo mas que não fazia mal porque este amor que tenho é igualmente grandioso e arrebatador. Só mudou a forma de chegada. E pedi-lhe que não tivesse medo. Disse-lhe que se sentir logo uma explosão de amor é óptimo e que, se não sentir, não faz nenhum mal, está certo na mesma. O autocarro que carrega o amor pelos filhos pára em todas as estações e não tem hora para passar. É por isso que, de uma forma ou de outra, todas o apanhamos. E quando entramos nunca mais saímos, direitinhas à viagem mais alucinante das nossas vidas.

09
Mai18

Tirem as mamas dos olhos

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Se há pessoas que eu adoro são aquelas que passam a vida a dizer que no tempo dos nossos avós é que se vivia bem. Reparem, eu até posso concordar com a parte do viver bem, vivia-se era pouco. E é uma pena que as pessoas se esqueçam dessa parte. Não é preciso ir muito longe para perceber que a mortalidade infantil era um flagelo e que doenças que hoje são banais matavam aos milhares. Ora, serve isto para dizer que não consigo entender a moda de voltar às "mezinhas" dos tempos em que não havia mais nada a oferecer. Mas elas estão a voltar e, infelizmente, muitas delas são realmente perigosas.

 

Antigamente (há 50 ou 60 anos) era prática comum limpar os olhos das crianças com paninhos embebidos em leite materno e parece que algumas fanáticas das mamas acharam que era giro reavivar a coisa. A palavra espalhou-se e cada vez mais se vêem nas redes sociais mães a pedir conselhos quanto a esta tontice. Antes de avançar deixem-me dizer que obviamente sou pró-amamentação e acredito que havendo condições esta deve ser sempre a primeira escolha quando se pensa na alimentação do bebé (e quando falo em condições falo não só no bom desenvolvimento estato-ponderal do bebé mas também no bem-estar físico e mental da mãe). Tendo dito isto sinto-me livre para continuar porque se há fanatismos que, mesmo sendo praticamente patológicos não prejudicam ninguém, outros há que devem ser desmontados pelos riscos que trazem consigo.

 

No outro dia uma mãe dizia num grupo que sim senhora, isto do leite materno nas compressas tinha curado a conjuntivite do filho. E eu tive vontade de chorar a rir. Curou a conjuntivite ou limpou meia-dúzia de ramelas? É que não é bem a mesma coisa. Uma conjuntivite é uma inflamação da conjuntiva e que dá outros sintomas para além das secreções visíveis (lacrimejo, comichão, olhos vermelhos...). É obrigatoriamente diagnosticada por um médico e, se bacteriana, será tratada com antibiótico, se de outro tipo terá também um tratamento apropriado (colírios, anti-histamínicos, etc.) mas nunca, nunca, nunca leite materno. E o tempo em que se anda a brincar às "mezinhas" é tempo que se está a perder no tratamento efectivo da doença. Por outro lado não há sequer provas que o leite materno não piore a conjuntivite e, por isso, deixemo-nos de tontices, boa?

 

Antes que a brigada de apedrejamento chegue e comece a debitar banalidades aviso já que andei três dias a procurar estudos científicos (daqueles reais, verdadeiros e bem-feitos, sabem?) que pudessem comprovar as maravilhas do leitinho da mama no olhinho dos bebés e não encontrei nadinha. Nada, nicles, népia, porra nenhuma. E aviso já que fantochadas escritas em sites e blogues de fanáticas não contam. E sabem porquê? Porque não há qualquer método científico por detrás de opiniões de quem só consegue ver num sentido: o de que o leite materno é tipo a lambidela de cão dos nossos dias - cura tudo.

 

Vá pessoas, vamos ter juizinho sim? Putos com sinais de conjuntivite são para levar ao médico, ok? Tirem-lhes lá as mamas dos olhos.

 

*Imagem retirada do Google

07
Mai18

Os grupos de mães no Facebook #2

 

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E pronto, como o prometido é devido cá está mais uma publicação da série "grupos de mães". Desta vez o tema central são as doenças dos miúdos. Juro que de entre todas as coisas que me fazem confusão esta mania de ir pedir "consultas" a grupos de Facebook é uma das que está, certamente, no meu top 5. Reparem, as pessoas até podem ter boa vontade e quererem muito ajudar, até podem existir médicas e enfermeiras por ali mas nunca será o mesmo que levar os putos a um lugar onde possam ser realmente observados com tudo o que isso implica (exames complementares de diagnóstico, por exemplo). Certamente que toda a gente acharia uma parvoíce se alguém metesse no Facebook, ou noutra rede social qualquer, uma publicação do tipo "comecei há cerca de trinta minutos com uma dor muito forte no peito que me apanha as costas, o braço esquerdo e o pescoço. Além disso estou suado e sinto-me realmente mal. Alguém por aí já passou pelo mesmo? O que fizeram?", certo? Então porque raio fazem isto com as crianças, senhores? Uma coisa é um rabo assado, uma febrícula que começou há duas ou três horas ou uma feridinha num joelho. Coisas diferentes serão febre altíssima, dificuldade respiratória e outros que tais.

 

Enfim, vamos a isto?

 

Quando os miúdos ficam doentes

 

1. Num grupo de Facebook é postado o seguinte comentário: "Olá a todas, estou aqui sem saber o que devo fazer. O baby M hoje caiu no parque e bateu com a cabeça no ferro das escadas do escorrega. Fartou-se de chorar mas depois consegui acalmá-lo só que agora começou a vomitar e parece que está a ficar mole e sem energia nenhuma. O que acham que devo fazer?".

Pronto digam lá que não dá vontade de responder "olhe, deixe-se estar e não faça nada, espere até ver se o seu filho fica completamente inconsciente e depois ligue para o 112, diz que assim o atendimento até é mais rápido que nem tem que passar pela triagem". Mas uma pessoa mete-se no papel daquela mãe e mesmo não percebendo porque é que ainda está no Facebook em vez de já ir a caminho do hospital responde "se calhar o melhor é levar o menino a um hospital que isso parecem ser sinais de traumatismo crânioencefálico; eu no seu lugar não perdia tempo". A mãe do dito menino deixa um comentário a dizer "muito obrigada, vou ligar ao meu marido e vamos fazer isso mesmo" e uma pessoa até respira de alívio mas, menos de trinta segundos depois, chega outro comentário qualquer vindo sabe-se lá de quem e que diz "olhe lá, não acha que está a ser um bocadinho dramática? Parece-me que está a deixar a mamã em pânico sem necessidade nenhuma. O bebé pode simplesmente estar cansado e os vómitos serem um reflexo disso mesmo o que também explica porque é que está molinho, caso não saiba as crianças usam muito o vómito para demonstrar cansaço, tristeza e frustração." E pronto, sempre fiquei a saber mais um bocadinho sobre psicologia infantil. Não respondi e nunca mais soube nada deste puto mas espero, realmente espero, que a mãe o tenha levado a um hospital em vez de dar ouvidos a esta gente avariada do caixote.

 

2. Uma leitora do blogue enviou através da página de Facebook um print de um grupo de mães que rezava assim "Olá a todas as mamãs aqui do grupo. Uma vez que a J. tem andado doente com febre já há quase uma semana hoje acabámos por ir com ela à urgência e depois de fazer análises viemos de lá com uma receita de antibiótico para levantar. Só que agora que chegámos a casa tenho estado a pensar em tudo o que se ouve sobre o excesso de antibióticos e estou com medo de o dar à menina. Vocês no meu lugar faziam o quê? Davam ou não davam?".

Ora cá a ver, em primeiro lugar é uma pena eu não estar neste grupo para poder responder à pessoa mas respondo por aqui que pode ser que ela ainda veja de uma maneira ou de outra. É óbvio que não deve dar o antibiótico. Então não se vê logo que os médicos são uma raça em quem não se pode confiar? Só prescreveu o antibiótico porque de certeza que a farmacêutica lhe anda a encher os bolsos. Isso é tudo uma raça de gente vendida à indústria, minha senhora. É que de certeza que o tipo pediu as análises só pelo prazer de torturar a menina e que depois nem olhou para elas, deu-lhe o antibiótico só para não dizer que não fazia nada e pronto. Ainda teve sorte de não lhe ter dito só que era uma virose, há muitos que são assim, correm tudo a viroses e acabou. Mas esses, pelo menos, não andam cá com prescrições perigosíssimas. Ah, só mais uma coisinha, se por acaso a sua filha não melhorar, é levá-la a um bom terapeuta espiritual que, com a conversa desses, nem as bactérias se aguentam. De nada.

 

3. Também enviado por uma leitora do blogue o print do maravilhoso caso da mãe que estava aborrecidíssima porque estava a dar oscillococcinum à filha para a febre e o pediatra, parvalhão, a querer obrigá-la a dar ben-u-ron. Eu não vos digo que os pediatras são uma raça perigosa? Onde é que já se viu cá essa brincadeira do Ben-u-ron, cheio de químicos, quando há medicamentos homeopáticos tão bons? 

Enfim, eu juro que aceito perfeitamente que se façam medicamentos homeopáticos como prevenção de estados gripais. Pessoalmente nunca tomei e, portanto, não posso saber se são ou não eficazes mas conheço quem tome e dê aos miúdos e esteja satisfeito (seja ou não coincidência, esse também não é o objectivo do post). O que importa aqui é que, correndo o risco de ofender muita gente, as doenças reais, já instaladas, especialmente se graves, se curam com a medicina convencional e não existe nenhum estudo científico credível que prove o contrário. Reparem, o vosso filho tem 41ºC de temperatura axilar, qual é o vosso objectivo imediato? Baixar a temperatura antes que a criança tenha uma convulsão febril, certo? Acreditem em mim quando vos digo que o oscillococcinum, que até pode ser uma maravilha, não tem esse poder antipirético e se não meterem um químico na criança o resultado vai ser uma merdinha (e antes que venham para cá falar de banhos tépidos e arrefecimentos forçados, já fiz uma publicação na página de Facebook do blogue a falar sobre as novas indicações do Plano Assistencial Integrado para a febre de curta duração da criança, da Direcção Geral de Saúde, onde vem escrito com todas as letras que esse tipo de medidas não está indicado).

 

4. Ora mais uma situação relatada por duas leitoras (deve ser de um grupo famoso qualquer, de certezinha). Uma mãe queixava-se que a filha de quase dois anos não comia nada, só mamava, e tinha apenas cerca de 8Kg - o que até nem seria relevante se nas últimas duas consultas não tivesse descido de percentil. Era seguida pela médica de família que tinha pedido uma observação pela pediatria pois achava que a bebé tinha que ser estudada. A mãe estava triste e preocupada. Mas não devia, minhas senhoras, não devia porque, de seguida, um conjunto de mães experientes abeirando-se da situação tratou logo de relativizar isto tudo com o seguinte argumento "se a menina mama tem todos os nutrientes que precisa, não se preocupe". 

Ora nem mais. Uma criança que mama tem todos os nutrientes que precisa. Confere. Mas é até aos seis meses porra. A partir daí a mama é importante sim mas nunca de forma isolada. A própria OMS recomenda aleitamento materno exclusivo, se possível, até aos seis meses e, a partir daí, diversificação alimentar. Repito, diversificação alimentar. Uma criança de dois anos não pode só mamar caramba, será difícil perceber? E havendo então uma quebra no percentil em duas consultas consecutivas... Mas pronto, há quem ache que sim senhora. Se esta mãe se aguentar com leite nas maminhas até a miúda fazer doze anos sempre poupa uns trocos que não são precisas despesas de supermercado. Enfim... Como alguém dizia no outro dia, haja paciência e um paninho (neste caso um lençol) para a embrulhar.

 

E para acabar, porque sou uma querida, deixo-vos um miminho. E dos bons. Ontem referi no Facebook que estava a penar com uma hemorróida (uma consequência agradável do parto, pois claro) e uma querida mais querida mandou-me o print de uma dúvida num grupo, não sei se de mães ou não, que dizia:

 

"Meninas, ando a sofrer horrores com as hemorróidas e o namorido tem-se oferecido para as ajudar a empurrar (homens, se é que me entendem)... Mas o meu desespero é tanto que já pensei se será que resulta mesmo? O que é que vocês acham?"

 

E pronto. Sou incapaz de fazer um comentário decente a isto. Mas lanço-vos o desafio: façam um comentário de nível e ofereço uma bisnaga de scheriproct à autora do melhor de todos. É que namoridos a empurar não sei se ajudam mas o scheriproct garanto que é assim para o melhorzinho. Oh sorte macaca.

 

Enfim, podem continuar a relatar as vossas experiências surreais para a caixa de mensagens da página do Facebook. Agradeço a quem optar por mandar prints que não identifique o grupo onde aconteceu e que arranje forma de cortar/tapar a identificação da pessoa que faz o post e das que o comentam, ok? Para a semana o tema desta rúbrica será "A mulher é bicho ruim". 

 

*Imagem retirada do Google

05
Mai18

Hoje é dia da mãe e eu tenho orgulho em ti

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Querida,

 

Se estás à espera que esta carta sirva para te elogiar e dizer que nada tens de imperfeita, não contes com isso.  Na verdade acho realmente que tens muitas imperfeições e é exactamente por isso que gosto de ti. Cada imperfeição faz de ti aquilo que tu és e também por isso te escolhi para mãe dos meus filhos. Sei que as mulheres se julgam umas às outras, especialmente no papel de mães, acham que estão sempre a falhar, mas peço que repares: onde tu encontraste falhas por não conseguires um parto normal eu vi muita coragem por horas sem fim de dor e uma cesariana tão complicada, onde tu encontraste falhas por não conseguires amamentar durante os seis meses eu vi uma mulher que mesmo com uma fissura na costela fez um esforço para alimentar o filho ao peito, onde tu vias falhas por te sentires cansada eu via uma mulher que antes dormia para lá da manhã e de repente acordava três vezes de noite e se levantava antes das 7h, de sorriso nos lábios. Entendes o que te pretendo dizer? Não devias, nenhuma mãe devia, ser tão crítica em relação a tudo.

 

Se os conselhos fossem bons não se davam, mas ainda assim arrisco um, escolhe ver o copo meio cheio, não ligues ao que as mãe ideais dizem e/ou fazem. Para mim que não percebo nada disto, essas mães nem são reais, simplesmente não existem. Mas tu és real, com os teus defeitos, manias e complicações (ui ui, quem te conhece sabe do que falo). És real porque acordas despenteada e com olheiras. És real porque ingeres um iogurte a correr enquanto fazes a papa do miúdo. És real porque passas a vida a correr contra o tempo. És real porque és uma péssima cozinheira mas mesmo assim fazes com todo o gosto sopinhas e  até (imagine-se) massa de peixe. És real porque ofereces uma fatia de fiambre à criança quando precisas que fique entretido. És real porque todos os dias, mesmo cansada, fazes um esforço para ler um bocadinho. És real porque choras, questionas-te e estás constantemente a achar que não tens feito um  bom trabalho. És até demasiado real quando estás no duche a cantarolar as canções do Panda, embora muitas vezes te apeteça, tal como a mim, que ele se calasse uns minutinhos.

 

Não tenho o dom de escrever com todo o sentimento  da  mãe imperfeita, não sou nenhum mestre com as palavras e receio perder-me. Assim sinteticamente o que te quero dizer hoje, no dia da mãe, é que todos os dias agradeço por te ter a ti e às tuas imperfeições. O sorriso, agora de dentição completa, do miudo prova-me que tu foste a minha escolha mais certa e que são as tuas imperfeições exactamente aquelas de que ele precisa. As tuas imperfeições não são exclusivas de ti, fazem parte de todos nós, enquanto família. Se somos uma família imperfeita? Eventualmente. Mas uma família imperfeita que é feliz!

 

 

Com amor,

O Pai Imperfeito

 

* Imagem retirada do Google

02
Mai18

Já não és mamã. Mas será que ainda podes ser?

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Olá mãe,

 

Quando pensava em como deveria começar esta carta tive muita vontade de recuar trinta anos e poder chamar-te mamã. Sei que pode parecer estranho porque, afinal, agora sou uma adulta mas a verdade é que tu nunca me pediste para parar de te chamar assim e eu não sei porque é que parei. No meu coração tu ainda és e vais ser sempre a minha mamã. Nenhuma âncora se compara a ti. Ligo-te se me sinto doente, se tenho problemas no trabalho, se não consigo tirar uma nódoa da camisola do miúdo ou se preciso de ideias para uma sobremesa diferente. É sempre em ti que penso em primeiro lugar quando preciso de colo porque sabes mãe, nenhum colo do mundo se compara ao teu. O teu colo é a minha casa mesmo qua agora viva longe. O teu colo tem o cheiro de dias felizes e de um Verão que nunca acaba.

 

Lembro-me de ser pequenina, de dormir entre ti e o pai e de não ter nenhuma dúvida de que o mundo batia certo. Fui feliz graças a ti. Ainda sinto o gosto do teu bolo pudim, dos carapauzinhos fritos com arroz de tomate e do teu arroz doce (posso comer mil, mas nenhum é igual ao teu). Quando hoje te vejo olhar cheia de amor para os netos, quando te vejo perdida na cozinha entre sopas e sopinhas, bifes para um, batatas para dois, sobremesa para todos, vejo o mesmo amor que via antes, quando eu era uma menina de caracóis que gostava que me fizesses ditados sempre que chegava da escola.

 

O dia da mãe aproxima-se. Farei, como sempre faço, tudo para estar contigo e levo os teus netos. Não sei se já alguma vez te disse mas sei bem que tu o sentes: tu também és mãe dos meus filhos. Quando olho para vocês, juntos, sei que eles também te pertencem, sei que o teu coração voltou a aumentar para os receber, sei que estás aí para eles como sempre estiveste para mim.

 

Às vezes olho para ti e perco-me nas tuas rugas, nos óculos que antes não tinhas e na curvatura que se começa a desenhar nas tuas costas. E nesses momentos tenho medo. Medo que a velhice te leve e que um dia me faltes. Eu não sei o que farei sem ti. Fazes-me toda a falta do mundo. Fazias quando era só uma menina com medo do escuro, ainda fazes mais agora em que o escuro que temo é outro. Ouço por vezes que perder os pais faz parte do ciclo da vida mas essa ideia não me conforma pela sua crueldade. Como é que perder aquilo que somos pode ser natural? Mandasse eu neste mundo e juro que te fazia eterna. A ti e a todas as mães.

 

Sabes, tenho medo de não te dizer vezes suficientes que te amo. Tenho medo que nesta vida corrida, entre trabalho, filhos e tarefas de casa, acabe por me perder muitas vezes e tu não percebas que sinto a tua falta apesar de te trazer sempre comigo. É por isso que quero aproveitar esta carta para te dizer que te amo sim, mais do que à vida, e fica a saber que passem os anos que passarem e mesmo quando eu já for velhinha, no meu coração vou sempre chamar-te mamã.

 

 

Esta é a penúltima das cartas que decidi escrever como forma de celebrar o dia da Mãe. A última carta, escrita pelo pai imperfeito, será publicada no Domingo. As duas primeiras, escritas por um bebé in utero e por uma criança pequena, podem ser encontradas aqui, respectivamente:

https://amaeimperfeita.blogs.sapo.pt/?skip=4 

https://amaeimperfeita.blogs.sapo.pt/?skip=2 

 

 

* Imagem retirada do Google

 

 

 

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