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A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

30
Jan20

A banha da cobra, ups, desculpem, os óleos essenciais

óleos 2.jpg

 

 

Ando há semanas com vontade de escrever este texto mas, na verdade, tem-me faltado a coragem. Sei que depois de publicar estas linhas vai haver gente ofendida e que a página vai perder seguidores mas, honestamente, já não dá para continuar calada. E de que falo eu? Dos óleos essenciais, pois claro.

 

Em primeiro lugar deixem-me já dizer que há, de facto, alguns estudos que apontam ligeiros benefícios na utilização de óleos essenciais em contextos específicos. O problema desses estudos é que são geralmente de baixa (ou muito baixa) qualidade. Mas vamos acreditar que sim, que em determinados contextos, como a ansiedade e o alívio da dor, os óleos essenciais têm resultado (mesmo que devido ao efeito placebo). Este facto, por si só, não faz com que os óleos essenciais sirvam para tudo e mais um par de botas.

 

Caramba, há gente a recomendar óleos essenciais para os piolhos, para curar otites, para pele atópica, para infecções respiratórias, para todos os tipos de cancro, para a hiperactividade, para o autismo… É a verdadeira loucura. E EM NENHUM DESTES CASOS HÁ EVIDÊNCIA que os óleos sirvam para algum coisa que não seja para depenar carteiras.

 

Por falar em depenar carteiras, adoro o argumento número um desta malta que passa, quase sempre, por dizer que os médicos prescrevem medicação desnecessária para ganhar dinheiro. Para além de ser uma falsidade dá logo vontade de lhes perguntar aos gritos se elas, por acaso, oferecem os óleos. E não, não oferecem. Vendem-nos. E bem caros, se querem saber. Com o preço de um kit de óleos, compramos paracetamol até os nossos filhos terem quarenta anos. Com a vantagem de que o paracetamol, de facto, resulta.

 

Observem bem a primeira imagem que coloquei e digam-me o que é que a vendedora dos óleos pretende com isto. Nitidamente coloca os óleos ao nível dos fármacos aprovados pelo INFARMED, como se jogassem no mesmo campeonato e servissem para o mesmo. O que esta publicidade faz e que, na minha opinião, é criminoso, é dizer que é possível substituir os fármacos prescritos por um médico, por meia-dúzia de gotas de óleos recomendadas sabe Deus por quem. E volto a dizer, metam-se a tratar infecções bacterianas com óleos essenciais e depois chorem quando virem os vossos filhos deitados numa cama dos cuidados intensivos.

 

A questão é que esta gente tem feito uma propaganda fortíssima e, apoiados em influencers de vão de escada que sabem ZERO sobre saúde, vão convencendo muitas pessoas, como a mãe da próxima imagem, a acreditar que os óleos são fabricados a partir da pedra filosofal e estão aptos para prevenir e curar doenças que a própria ciência ainda não compreendeu. Pronto, há 60 milhões de pessoas em quarentena na China mas isso é só porque não conhecem os benefícios de despejar três gotinhas de óleo essencial atrás da orelha direita. Surreal, não é?

 

 

cornavírus.jpg

 

 

Enfim… Às vezes tenho a sensação que só me desgasto com este tipo de publicação porque, de facto, há pessoas que insistem em negar o óbvio. E o óbvio é que ÓLEO ESSENCIAL NENHUM SUBSTITUI MEDICAÇÃO OU TRATA SEJA QUE DOENÇA FOR. Muitos deles, inclusivamente, são vendidos de forma tão leviana (ver imagem abaixo) que não sabemos se o óleo lá dentro é Fula, Vaqueiro, água da torneira ou veneno de cicuta.

 

 

óleos 3.jpg

 

 

Querem gastar balúrdios em óleos essenciais e usá-los indiscriminadamente? Então, pelo menos, tenham o cuidado de não os usarem como substitutos de medicação real. Se não por vocês, pelo menos pelos vossos filhos.

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