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A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

29
Jan18

Mas isto é um blogue ou um protesto?

 

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Às vezes estou cansada do meu filho, ligo a baby tv e agradeço aquela meia horinha de paz em que consigo fazer as camas, arrumar a louça lavada ou passar meia dúzia de peças a ferro. Quando ele está birrento e não se quer sentar na cadeira da papa para comer costumo ligar o tablet e ele fica lá que é uma maravilha. Nunca fiz aquelas comidas da moda para bebés. Comia sopas com a carne ou o peixe triturados e, desde que fez um ano, come o mesmo do que nós mas sem sal. E quando digo o mesmo quero dizer exactamente o mesmo. Desde caldeirada a arroz de pato, passando pelo ensopado de borrego ou pelo peixe assado no forno. Nunca comeu panquecas de aveia nem provou quinoa (agora que penso nisso, eu também nunca provei). Mas come Cerelac e bolachas Maria.

 

O meu filho não é loiro de olhos azuis, até porque, nesse caso, não teria a quem sair. Na maioria dos dias anda mais prático do que bonito o que significa que vai quase sempre para a creche com calças de fato treino compradas na Zippy e camisolas de capuz compradas na Primark. Usa ténis todos os dias e, apesar de ter feito 14 meses na semana passada, só ontem deu os primeiros passos sozinho. O parto foi difícil e, como sequela, deixou-o com uma surdez neurossensorial severa o que implica que use aparelho auditivo, bilateral. É esperto que nem um alho e gosta de empilhar legos e fazer desenhos com marcadores; o meu tapete da sala é a sua mais recente obra de arte.

 

Desde que ele nasceu acho que nunca mais comprei roupa para mim e corto o cabelo mais ou menos de seis em seis meses. Dito isto, estou longe de ser uma MILF. Amamentei (e detestei) e as minhas maminhas pagaram a factura transformando-se em duas passas de figo murchas. Gostava muito de ter dinheiro para a plástica mas, hey, já disse que o meu filho é surdo? Deviam investigar o preço de aparelhos bons e discretos. Esqueçam lá a minha recauchutagem.

 

Costumo mostrar ao meu filho um livro com animais e sempre que imito a vaca ou o porco ele ri até à inconsciência. Continua a arrotar alto e bom som no final de todas as refeições e tem a mania aborrecida de comer com as mãos. Quando se porta mesmo mal costumo dar-lhe uma nalgada no rabo de fraldas. Nunca tive uma conversa super profunda com ele sobre o comportamento e não aplico o método Montessoriano, ou lá como se diz. Tem as vacinas em dia (inclusive as extra PNV) e eu tenho sempre vontade de esbofetear as pessoas que não vacinam os filhos. Gosto quando adormece às 20h30 (na maioria dos dias) mas tenho dores na alma porque isso o faz acordar pontualmente às 7h, qual relógio de cuco. Todas as noites faz o primeiro sono na cama dele e depois é transportado para a cama dos pais porque é Inverno, está um frio do caraças, e não há paciência para ficar ali a congelar enquanto ele decide voltar a adormecer.

 

Às vezes fico a olhar para ele quando dorme e quase sempre acabo de lágrima no olho a pensar como é que fiz uma coisa tão perfeita. Mas quando ele arranca os aparelhos dos ouvidos dez vezes em dez minutos tenho vontade de lhe prender as mãos. É isso e quando ele abre os armários da cozinha. Ou quando mete a máquina da louça a lavar.

 

Ditas estas coisas, a verdade é que não sei porque é que estou a escrever isto. Sou uma mãe imperfeita, e não tenho truques, dicas ou conselhos para ninguém. Não tenho nada a oferecer, excepto a minha imperfeição e, talvez, um bocadinho de companhia. Sou só uma mãe cansada das super-mães que dominam a blogosfera e as redes sociais e que são sempre giras e bem arranjadas, com filhos perfeitamente vestidos a combinar e que nunca parecem à beira do colapso em que ando 90% do tempo. Por coisas cá da vida (o que dará toda uma outra publicação) agora tenho mais tempo livre e, por isso, andarei por aqui. Mesmo que eu, o meu marido e as minhas irmãs sejamos as únicas pessoas a lerem o que escrevo.

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