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A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

A mãe imperfeita

Porque a maternidade é difícil. E as mães precisam de rir.

07
Nov18

O horário de amamentação e outras "minudências"

 

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Toda a gente sabe que a maternidade dá cabo da memória das mulheres e todos os dias chegam à caixa de mensagens da Mãe Imperfeita exemplos extremos desta condição. Um dos mais frequentes é aquele em que a falta de memória é de tal ordem que a mulher acaba por se esquecer exactamente que é mãe... Estão a achar estranho? Então deixem-me elaborar e depois já me dizem se tenho ou não tenho razão.

 

Há duas situações que exemplificam esta condição de forma perfeita: a primeira está relacionada com a necessidade de faltar ao emprego por ter um filho doente e a segunda com o cumprimento integral do horário de amamentação. Ora digam-me lá quantas e quantas mulheres não foram já vítimas de bullying por parte de colegas de trabalho, que curiosamente também são mães, sempre que se limitaram a usufruir destes direitos legalmente estabelecidos?

 

Deve ser difícil encontrar neste país uma mãe que nunca tenha ouvido um "no meu tempo não havia nada disso" ou um "também criei os meus filhos e nunca precisei de sair mais cedo". Parece um disco riscado, caramba. 

 

Um dia pode ser que as pessoas percebam que o horário de amamentação é um direito dos nossos filhos, não nosso. Aquelas duas horas a menos no trabalho são tempo que podemos passar com eles no primeiro ano de vida, quer amamentemos ou não. Os nossos filhos merecem isso, têm esse direito. É que já não basta a brutalidade que sofrem quando começam a passar os dias longe das mães como ainda há quem tenha o desplante de achar que devemos abdicar das míseras duas horas que a lei portuguesa nos consagra.

 

E escusam de vir cá com o exemplo dos próprios filhos há vinte anos porque, felizmente, o mundo evoluiu. Mal comparado também há crianças que infelizmente morrem à fome em África e não é por isso que não damos comida aos nossos filhos, certo? Então não venham querer que os deixemos com as avós quando estão doentes ou que trabalhemos em horário normal no primeiro ano de vida dos miúdos só porque foi assim que aconteceu com elas há não sei quantos anos. Se hoje em dia temos a possibilidade de fazer um bocadinho mais e melhor, porque é que havemos de ser boicotadas por mulheres que, ainda por cima, também são mães?

 

Pouca coisa me dói tanto na maternidade como ver do outro lado da barricada aquelas que deviam estar connosco nas trincheiras. E quando falo do outro lado da barricada falo dos conluios com as chefias, da pressão exercida para que se cumpra a jornada de trabalho ou para que se trabalhe em horário nocturno, por exemplo. Que tristeza ver mulheres que também são mães a falar pelas costas e a envenenar os cargos superiores porque outra mulher, outra mãe, ficou em casa com o filho doente. Que tristeza é esta falta de memória que as faz esquecer do que sentiram quando deixaram os miúdos doentes na creche e foram trabalhar, que tristeza é a falta de memória que as faz esquecer do que sentiram quando voltaram ao trabalho depois de meses em que existiram quase exclusivamente para os filhos numa relação tão profunda e simbiótica como nenhuma outra...

 

E esta falta de memória não há memofante que resolva.

 

*Esta da fotografia sou eu, antes de sair de casa sozinha pela primeira vez depois do nascimento do Pedro.

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